Mendigos à la carte

O assunto do dia é a descoberta pela comunicação social de algo que toda a gente já sabe, ou pelo menos já desconfia, há muito anos: O tráfico internacional de crianças para efeitos de mendicidade.

Clãs familiares da Bulgária e da Roménia, aproveitam a mobilidade concedida pelo acordo de Schengen, para comprarem crianças nos países de origem que depois distribuem pelas principais cidades europeias, para recolherem as esmolas de turistas e senhoras mais sensíveis.

Para a Judiciária, este é um fenómeno da globalização. Para mim, que sou menos adepto dos lugares comuns, é um fenómeno da inacção. Inacção da polícia e mais que da polícia, dos Governos que adoptaram a política de fingir que não vêem o problema porque, coitadinhos, são pobrezinhos e têm direito à vida. E também porque enquanto andam a encher os passeios da cidades com as suas figuras andrajosas a meter nojo às pessoas, não andam a roubar. 

O que, aliás, é exactamente a mesma política ou filosofia que adoptaram, com os arrumadores de carros que, espalhados pelas feiras e várias cidades do país, extorquem o dinheiro aos condutores mesmo quando estes a seguir têm de pagar o estacionamento à EMEL. A polícia sabe desta extorsão, o Governo sabe desta extorsão, mas todos fingem que não vêem.

Todavia, o caso da mendicidade é mais grave. Pelo menos presumo eu na minha inocência que o seja, quanto mais não seja para aqueles que são vendidos pelos pais por tuta e meia, para serem abusado por redes de mafiosos que lhes roubam a infância ou adolescência e os submetem a abusos, que seriam inaceitáveis até para pessoas adultas. É vulgar as meninas ou raparigas serem obrigadas a casar com membros do clã e a engravidar porque crianças de colo nas mãos de outras crianças sempre condoem mais e, assim como assim, tanto uma como outra sustentam-se com umas côdeas de pão.

Mas disse eu no parágrafo anterior “na minha inocência” e será mesmo na minha inocência ou talvez no meu exagero, uma vez que, para quem governa a Europa, este fenómeno, para além de ser uma consequência inevitável da globalização, é gerido como um pequeno negócio de empresas familiares que embora esteja à vista de toda a gente não merece a sua atenção.


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