Burnout

 

Um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis, revela que cerca de 80% dos portugueses possuem pelo menos um dos sintomas de burnout e cerca de 63% acumulam já, para além do papel higiénico que ainda têm na dispensa dos tempos da Covid, três sintomas: exaustão, tristeza e irritabilidade e indica que os trabalhadores da saúde, administração pública e educação e são os de maior risco.

Esta última afirmação vem, no fundo, desmistificar a ideia que a Administração Publica nada faz e certamente que, a partir de hoje, os portugueses que forem a uma repartição publica e sejam recebidos por uma funcionária com cara de cavalo que lhes devolve com um “isto não serve”, os papéis que demoraram semanas a coligir por vários departamentos e repartições a mando dela mesma, não irão levar a mal porque a senhora provavelmente padecerá de um burnout que justifica os seus maus modos e a sua má educação. Tanto mais que o Governo este ano ainda só lhes deu duas pontes, uma no Carnaval e outra na Páscoa e ainda falta muito tempo para vir o Papa a Lisboa.

Quanto aos professores, estão esgotados, coitados, trabalham tanto ao fim-de-semana a descer as avenidas deste país carregados de bandeirolas, aos berros e a pedir aumentos salariais e a defesa do ensino público - que, na realidade, é exactamente a mesma coisa; ou seja, para os professores, a defesa do ensino público passa exclusivamente pelos aumentos salariais dos professores e a reposição do tempo em que as progressões de carreira tiveram congeladas – que é é natural que se vejam obrigados a marcar greve, preferencialmente às sextas-feiras e pontes, só para recuperarem um pouco do esforço de fazerem figuras tristes nas televisões.

Quanto aos profissionais de saúde, aqui se calhar também tenho de dar o braço a torcer, pois na sexta-feira estive no hospital e tive de ser eu a fazer uma consulta ao médico que me atendeu nas Urgências pois aparentava estar mais doente e cansado do que eu.

Continua o estudo dizendo que uma das soluções para combater este fenómeno passa pelo regime de trabalho híbrido que está a ser implementado com muito sucesso lá fora. Cá, não me parece que vá ter muito sucesso. Até porque nalguns departamentos do Estado já se implementa a trabalho híbrido há décadas e não se veem melhorias aparentes. Quem é que ainda não foi a uma repartição de finanças entregar uns papéis e não lhe disseram com toda a calma “a colega que trata disso hoje ficou em casa”. Em trabalho híbrido já se vê. Notaram melhorias no atendimento ou na felicidade da senhora que os atendeu? Não! Pelo contrário até parece que bebem leite estragado ao pequeno-almoço.

Todavia tentativas de esclarecimento sobre esta matéria não faltam e ainda no outro dia uma conferência na Aula Magna sobre os benefícios do trabalho hibrido, fez levantar um burburinho na plateia onde se sentavam os trabalhadores do sector privado a perguntar “regime híbrido? O que é isso?”, que quase de imediato foi abafado pela algazarra que se levantou do lado onde se sentavam os trabalhadores da Administração Publica a perguntar “trabalho? O que é isso?”

Conclui assim o estudo que o burnout parece ter alguma aversão ao sector privado onde se manifesta apenas e de forma insipiente no sector dos transportes e do comércio e serviços, deixando o pessoal da indústria e da construção civil sãos como peros. Donde se prova que apertar tarrachas e a acartar baldes de cimento é mais terapêutico que trabalho hibrido e outras modernices.

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