Se eu fosse tu


 No autocarro 36 viaja todos os dias comigo, excepto quando eu ou elas não vamos, um trio de loiras fingidas, ai na casa dos quarentas e bastantes, que consideram que o autocarro é o melhor local para tratar das suas vidas.

Duas delas ,muito activas e despichadas (não, não me enganei, não é despachadas é despichadas mesmos) elejeram como objectivo principal da sua vida, despichar a terceira e, durante a viagem, lá lhe vão dando todos maus conselhos que conseguem desde o Cais do Sodré à Avenida.

“Mas porque é que não o deixas a falar sozinho?”, pergunta uma.

“Mas porque é que não te separas?”, pergunta a segunda.

E a terceira com um ar abatido lá se vai defendendo como pode com uns “Não sei” ou uns “sei lá”. E as despichadas insistem:

“Eu se fossa ti...” 

Mas não são ti e a rapariga, triste, não sabe o que fazer.

“Se fosse comigo já estava com dono”, diz a mais insistente. “olha, o meu foi logo… e estou muito feliz assim sem chatices nem preocupações. Antigamente era chegar a casa, fazer o jantar, tomar banho, fazer as coisas e só depois é que tinha tempo para mim. Agora é diferente (diminuiu o tom de voz e espaçou mais as palavras), cheeeeego a casa, tooooomo o meu banho, faaaaaço o jantar, faaaaaaço as minhas coisas e depois ainda teeeenho tempo para mim.”

Pus-me a pensar como por vezes a felicidade é tão fácil de atingir. A esta mulher bastou-lhe passar a tomar banho antes do jantar para atingir a plenitude espiritual. E claro… a culpa era do marido por não compreender isso.

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