Deliciosamente sem juízo

 

Juízo!

Detesto que me digam para ter juízo!

Se há duas coisas que não gosto de ter é razão e... juízo! Acho que as pessoas ajuizadas e sempre cheias de razão são um tédio e têm como único objectivo neste mundo aborrecer de morte as outras pessoas! Sempre muito ponderadas, sempre muito cautelosas, sempre muito medrosas. Só para se certificarem que terão razão em tudo o que disserem ou farão, são incapazes de tomar uma decisão por impulso, dizer sim só porque sim e não porque, só após uma análise cuidadosa do problema a consciência as aconselhou finalmente a dizer sim. Fazem da vida um jogo de xadrez onde tudo se resume a estratégia e a movimentos ponderados de causa e consequência. Poderão vir a ser bem sucedidos na vida mas nunca terão momentos de maravilhosa genialidade. Com os olhos postos no chão, nunca tropeçarão é verdade, mas também nunca verão a cor do céu.

A vida, felizmente, não tem livro de instruções e dá-nos a chance de errar e de aprender com os nossos erros. Quem não o faz só aprenderá com os erros dos outros e isso não é aprender, não é viver, é seguir à boleia de experiências alheias. É como se sentados no nosso pequeno barco a remos numa pequena lagoa tentássemos imaginar o que sente um velejador no meio de uma tempestade no oceano.

Eu, cá por mim, detesto estatísticas, análises de resultados e linhas de tendência, detesto que me digam que não terei sucesso porque historicamente sempre falhei. Falhei, refalhei e tornarei a falhar quantas vezes forem preciso até um dia conseguir ganhar... ou não. Poderei ser falhado mas desistente não!

Gosto de ser imponderado, apostar contra as probabilidades, dizer o que não devo e o que me vêm à cabeça no momento. Estou-me perfeitamente borrifando para o politicamente correcto e para as inconveniências. Quem gosta come, quem não gosta sempre pode ir ouvir um CD com música dos Andes e campainhas tibetanas.

Razão? Também não a pretendo ter! Pretendo isso sim, esgrimir os meus argumentos até se extinguir a última centelha de convicção na minha cabeça ou então até me aborrecer do assunto e começar a defender precisamente o contrário.

Portanto não me venham com essas tretas de ter juízo, de alinhar pela maioria, de aderir e aceitar o convencionado, ou de me quantificarem as hipóteses de dar certo ou de dar errado, porque só me conseguem instigar mais a vontade de ir contra a maré. As hipóteses são ínfimas? Muito bem! Vamos ver quão ínfimas são elas! Experimenta-se, tenta-se, arrisca-se se der, deu, se não der, logo se vê.

Ah, mas já tens idade para...Não, não tenho! Não tenho idade para ter juízo, não tenho idade para ser ponderado, não tenho idade para me portar bem. Na realidade não tenho idade, sou intemporal transversal a todas as eras. E enquanto der acordo de mim recuso-me a ter idade, só sonhos e rebeldia.

As consequências não se evitam, assumem-se! E não, as chinesas não a têm atravessada!


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