Tigres da Tasmânia e outras reflexões
Cumprido o penoso período de férias (óptimo, ainda não perdi o sentido de humor), cumpre-me dissertar um pouco sobre algumas notícias que fui dando conta nesta quadra, mas que uma imensa preguiça me impediu de escrever sobre elas.
Em primeiro lugar e como primeiro assunto, gostaria de abordar a vontade manifestada por um grupo de cientistas australianos de “ressuscitar” da extinção o Tigre ou Lobo da Tasmânia cujo último exemplar se finou na década de 30 do século passado.
Referem estes investigadores que actualmente possuem os meios técnicos e científicos que permitem, num prazo de 10 anos, recriar esta espécie que a Natureza demorou milhões de anos a apurar e o homem meia dúzia de séculos a exterminar.
A ideia passa por utilizar células estaminais e tecnologia de edição de genes, transformando células de um marsupial existente, em células do Tigre da Tasmânia que, posteriormente, darão origem a um embrião que se desenvolverá ou in vitro ou no ventre de uma receptora. Em caso de sucesso, o processo será repetido várias vezes até gerar animais suficientes de tal forma que se possam reproduzir entre si e assim poderem ser libertados na natureza.
Esta é uma questão que, para além de questões científicas, levanta igualmente questões teológicas, ao introduzir na equação da Criação do Mundo, para além de um Deus Criador, a figura do Homem Criador e questões filosóficas, um tigre da Tasmânia recriado pelo homem será na realidade um Tigre da Tasmânia? Um embrião humano criado por seres alienígenas, numa sociedade e cultura diferente, será um ser humano ou terá apenas aspecto humano? Na realidade o ser humano ou um Tigre da Tasmânia são mais que um amontoado de células. São cultura, são comportamentos e instintos adquiridos aprendizagens de gerações passadas. Algo criado do nada não pode ter esta aprendizagem
E poderá também ser o início de um caminho extremamente perigoso, no futuro poderemos exterminar uma espécie autóctone porque, por exemplo, necessitamos de explorar temporariamente o seu habitat para qualquer tipo de indústria mineira, petrolífera, madeireira ou coisa que o valha, porque estamos certos que mais tarde, quando tivermos tempo, poderemos recriar essa espécie?
Por fim e como última reflexão não deixa de ser curioso que enquanto existe um grupo de 10 ou 15 pessoas que tentam recriar uma espécie extinta, exista um grupo constituído por vários milhares de milhões de pessoas que procurem a extinção de toda a vida na Terra.
Em segundo lugar gostaria de dar a conhecer ao mundo uma experiência sociológica que vivenciei e para a qual lanço no final um repto de adivinhação.
No dia 17 de Agosto dirigi-me a uma estação de correios para levantar a minha carta de condução, que fui agora aos 37 anos obrigado a renovar, pensando inocentemente que tal tarefa seria coisa rápida. Enganei-me redondamente. Apesar de ser tempo de férias não me tinha lembrado que na freguesia mais populosa de Lisboa existe apenas uma estação de correios e 2 pontos de correio, seja lá o que isso for, pelo que encontrei pela frente 22 pessoas, 19 delas simpáticos velhinhos, uma… uma… como direi para não correr o risco de me bloquearem no facebook… bom uma pessoa de etnia diferente a quem por vezes se atribuem características nómadas e têm por hábito prolongarem muito a última sílaba das frases, aiiiiiiii, onde vais tuuuuuu, olha a t-shitiiiiiii, e duas voluntariosas funcionárias que num assomo de perfeccionismo que só os funcionários públicos almejam chegar, demoravam pelo menos 20 minutos a atender cada cliente e arranjando ainda tempo para se levantarem do lugar e irem segredar uma com a outra sobre horários de almoço e outros assuntos de reconhecida importância para a humanidade.
Bom mas não é isso que é importante, o foco deste tema são os que estavam do lado de cá do balcão e do vidro grosso que quase impede os perdigotos de atingir os óculos das funcionárias. Digo quase impede, porque toda a gente parecia sentir uma grande compaixão por aqueles pequenos pedaços de saliva que esbarravam desamparados na vidraça e, movidos por um samaritanismo inato, baixavam a cabeça e aproximavam a boca da janela que fica na base do vidro para que os gafanhotos pudessem assim cumprir o seu objectivo de vida que, como todos sabem, é salpicar de cuspo a cara dos outros.
Estavam então 20 pessoas à minha frente para serem atyendidas, 19 delas foram pagar qualquer coisa, água, luz, encomendas, selos do correio, etc. e uma delas apenas para fazer uma assinatura num papelinho e receber em troca um maço de notas. Deixo à vossa perspicácia adivinharem quem foi
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