Fátima

No início de Agosto, lá pela noitinha, tive oportunidade de assistir pela primeira vez à produção luso francesa do filme Fátima, versão de 2017, para o qual, após muita reflexão, decidi dar o meu contributo crítico.

E a minha opinião sobre este filme é simples: Um horror! 

O filme devia ser estudado nas faculdades como um caso do que não se deve fazer num filme. 

O argumento simplesmente não existe! Uma mão cheia de gajas saem de Vinhais para irem calcorrear estradas a pé até Fátima. Ponto final parágrafo! É isto! Pelo meio não se passa nada a não ser ver aquele magote de mulheres a andar e a dizer palavrões. As actrizes, algumas delas ou quase todas elas com méritos reconhecidos na indústria cinematográfica, são completamente desaproveitadas por um guião que também parece não existir. Aliás, estou convencido que quem mandava naquela traquitana toda, chegava de manhã ao local das filmagens e dizia apenas; “olhem hoje a Amparo discute com a Nazaré e depois digam mais coisas” e abalava dali para fora para ir beber um café, deixando a cargo das actrizes dizer o que lhes dava na real gana, apenas com a noção que em determinada altura duas delas se tinham de guerrear.

Os diálogos são tão pobres de conteúdo que, se retirarmos o vernáculo utilizado de forma tão exaustiva que tornaram as minhas viagens com a malta dos Olivais uns autênticos passeios de seminaristas, fica reduzido a duas ou três páginas. Uma autêntica pobreza franciscana!  

Safou-se no meio disto tudo e com honrosa distinção, a Rita Blanco que, pelos vistos, até consegue fazer da leitura de um horóscopo da Revista Maria uma obra prima do Teatro, do Cinema ou do que ela muito bem entenda fazer e.... a Cleia Almeida que, raios partam a mulher, é tão gira que não consigo dizer mal dela. Como é que eu nunca tinha ouvido falar dela anteriormente? Giríssima! Apetecia-me mandar colar posters enormes dela por metade das ruas de Lisboa e Montijo. Em metade, porque a outra metade ficava destinada à Anabela Moreira, também ela gira aos pacotes e cujos dotes de representação mais que comprovados, passam completamente despercebidos no filme. Limitaram-se a pô-la a andar, a suar e a apanhar boleia de um velho que tinha um guarda-chuva o que, por sinal, veio a deixar as outras com uma azia descomunal.

Na lista das actrizes que estão ali só para fazer número, destaca-se com toda as honras e distinção a Sara Norte que, para justificarem o seu cachet e a sua presença no filme tiveram que a pôr quase no final a pintar as unhas em frente da câmara com ar muito enfastiado. Na realidade, tanto podia ser a Sara Norte a fazer aquele papel, como qualquer um dos espectadores do Preço Certo. A diferença não seria nenhuma e se calhar o filme até ganharia com isso pois quando houvesse qualquer dúvida no caminho a seguir ela gritaria "para xima, para xima!"; "para baixo,para baixo.Tá bom!"

Quanto à fotografia, se possível, o desastre ainda foi maior. Enquanto no cinema americano a acção se desenrola em magníficas paisagens, no cinema europeu parecem fazer questão em debruçar-se sobre o pior que os países têm. No Fátima, vimo-nos várias vezes confrontados com paisagens desleixadas onde abundam  caixotes do lixo, beiras de estradas manhosas, bombas de gasolina e terreolas que não interessam nem ao menino Jesus.

Ai mas é assim que é a realidade e os americanos são… Quero lá saber disso! Se quero ver a realidade vou à janela de minha casa e espreito para a rua. Num filme procuro o sonho, o encanto e vivências que não posso ter na vida real. Ai mas o realizador queria fazer uma espécie de documentário que retratasse a jornada de uma peregrinação… Também quero que se lixe! Se queria fazer um documentário escrevia no cabeçalho "Documentário" e não "Filme", um documentário é um documentário e um filme é um filme, ou os subsídios são diferentes para um e para outro?

Depois, ou melhor, antes, há a cena das mamas e dos cuzes. Durante alguns segundos são mostradas mamas e corpos nus à fartazana no momento em que as peregrinas tomam banho num albergue manhoso. Não é que eu sinta a minha sensibilidade ofendida ou sequer que ligue muito a isso (foi ao minuto 37 e 46 segundos). Já vi corpos nus que cheguem nas célebres Pornex que realizávamos periodicamente em casa do Cascão. O que me choca aqui é a gratuidade da cena. Fazia sentido mostrar aquele mulherio todo nú? Ver-se uma mama, um rabo ou uma delas a limpar-se com a toalha já dava para tirar o retrato à coisa (tirar o retrato à coisa é apenas força de expressão que quer dizer perceber onde o realizador queria chegar e não propriamente tirar o retrato à coisa), agora aquele festival de cus e mamas e tudo aos gritos é completamente desnecessário a não ser para gáudio dos cameraman que certamente puseram muitas vezes os dedos à frente das lentes para terem que repetir a cena, ou para o realizador mostrar a sua vertente modernaça n senda dos realizadores dos horríveis remakes dos filmes O Pátio das Cantigas e A Canção de Lisboa que metem os actores a dar quecas despropositadas e transformam duas tias da província em duas lésbicas. Não tem sentido!

Agora pontos a favor, porque também os há para além da Rita Blanco: 

A cena final de reconciliação quando já chegadas a Fátima as transmontanas e, muito principalmente,os nomes dados às personagens; Ana Maria; Céu; Fátima; Isaura; Amparo; Rosário; São; Isabel; Nanda e o que considero a coqueluche de todos…. Nazaré. 

Nazaré. Que pena não ter mais filhas se não chamava-as a todas Nazaré.

Uma delícia estes nomes. Por eles dou os parabéns ao João Canijo ou a quem decidiu criar as personagens com estes nomes.

De fora deixo a Carla que a bem dizer não é carne nem peixe para não destoar da personagem que a encarna.

No final, o mais estúpido de tudo é que não consegui deixar de ver o filme e está-me a apetecer vê-lo outra vez. 


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