A Poesia
A poesia agonia-me!
A sério! Não consigo ler um poema, ou sequer um excerto dele, que não sinta logo vontade de agarrar o autor pelos ombros e abana-lo com violência até que aquela verborreia melosa e cheia de floreados lhe saia pelas as narinas e voe para cima da primeira árvore que encontrar.
Em minha defesa tenho a dizer que, de uma forma geral, até sou uma pessoa pacífica e não sou muito de abanar as pessoas pelos ombros. Para falar a verdade, até à data, para além dos poetas, só me apeteceu agarrar pelos ombros e abanar fortemente duas pessoas: A Samantha Fox e uma outra cantora chamada Sabrina…. ai como eu gostaria de as agarrar pelos ombros e abanar com força aquelas quatro… mas deixemos isso para outra conversa e concentremo-nos agora nesta cáfila de sujeitos.
É a linguagem melífera dos poetas e aspirantes a tal que me tira do sério. Não são capazes de constatar um facto ou exprimir uma simples ideia, sem nos fazerem pensar que somos possuidores de uma alma empedernida isenta de qualquer tipo de sentimento. Pior, para além de nos fazerem sentir completamente desprovidos de sensibilidade, fazem-nos sentir totalmente obtusos, obrigando-nos a ler vezes sem conta as mesmas dez linhas do seu arrazoado de palermices, para ver se, pelo menos, conseguimos aproximarmo-nos do grau de comunhão platónica que o autor tem sobre o mundo que o rodeia.
Sim, porque um neo poeta vê-se a si próprio como alguém com capacidades sensoriais muito acima do comum dos mortais. E tão elevado é o seu estado cognitivo que nem sequer se dá ao trabalho de colocar um ponto final ou uma mera virgula no amontoado de palavras desconexas que dispôs no papel ou no ecrã. Em vez disso, divide o que seria para toda a gente um longo parágrafo de má prosa, em frases curtinhas e muito alinhadas, umas abaixo das outras para dar a entender que é um poema.
Deixa ao incauto leitor a tarefa de tentar colocar mentalmente a pontuação em diferentes locais para ver se percebe onde o autor queria chegar ou se pretendia efectivamente chegar a algum lado. Normalmente não consegue mas, ciente da sua ignorância, imita os que se fingem apreciadores da arte abstrata e, nos museus, acenam levemente com a cabeça perante um Wassilly ou um Pollock para fingirem que percebem aqueles rabiscos… principalmente se alguém estiver a ver.
Vejamos um exemplo:
Está a chover! – facto!
Para os neo poetas não chove. A sua mente superior é incapaz de conceber que exista algo físico ou metafísico que se possa descrever em menos de trinta e oito palavras. Para um neo poeta “está a chover” traduz-se em algo como “suaves gotas cristalinas precipitam-se de céus plúmbeos como lágrimas de mãe de filho ausente em guerras sempre perdidas entre o som das balas dos inimigos que lhe ferem o coração ensandecido de saudade”.
Não perceberam nada do que escrevi, pois não? Então deixem-me colocar as coisas de outra forma, a forma neo poética:
Chuva
Suaves gotas cristalinas
precipitam-se de céus plúmbeos
como lágrimas de mãe de filho ausente
em guerras sempre perdidas
entre o som das balas dos inimigos
que lhe ferem o coração ensandecido de saudade.
Continuam sem perceber nada mas ficou com um aspecto melhor, não ficou? Até se poderia pensar que temos poeta.
Mas não, não temos. O que temos é a mesma tolice escrita de forma diferente para vos levar a pensar que sou sensível e inteligente.
Mas atentem no pormenor. A cereja no topo do bolo é o título da coisa, seco e curto para dar a entender aos leitores que o autor é desprendido da humanidade com que Deus abençoou o resto da humanidade e que nos faz um grande favor em frequentar o mesmo nível de existência que nós.
Falem-me de António Aleixo, das décimas alentejanas. Falem-me de Bocage que era um bacano um bocado a atirar para o ordinarote, falem-me de Camões, Fernando Pessoa. Estes sim, estes ao menos perdem ou perdiam algum do seu tempo a fazer as palavras rimar e alguns até com alguma piada. Agora estas neo coisas? Deus me livre! No outro dia fui a ler uns poemas que algum iluminado considerou por bem afixar nas carruagens do metro e entre a Baixa Chiado e o Cais do Sodré, bati pelo menos duas vezes com a cabeça no varão desfalecido de sono só por tentar ler a primeira frase daquele disparate pegado.
Poesia francesa, diziam eles. Porcaria francesa digo eu! Porque é que não puseram antes umas fotografias da Sophie Marceau ou da Eva Green? Também são francesas e diz-me mais uma linha do seu rosto do que uma dúzia de linhas daqueles pedantes.
Bom, até à próxima que antes do jantar ainda tenho de passar pela mercearia para que me vendam uma lata de atum. Ou, como quem diz em modo neo poético:
Desejo tomar posse
daquele féretro metálico
decorado a letras impressas a fogo
que contém pedaços exangues
de veloz cavaleiro prateado
de correntes enfurecidas em mar azul de miosótis
encimado por ondas de alva espuma…
…de preferência Ramirez!
Carlinhos, estás possuído! Mas sempre em bom 😊😊
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