Stephen Hawking

 (publicado originalmente a 14 de Março de 2018)


Às sete da manhã, quando liguei o rádio para ouvir as notícias da Antena 1 a primeira palavra que ouvi foram duas: Stephen Hawking!

“Pronto, já está!”, pensei eu. “Para não abrirem o noticiário com um estudo levado a cabo por alunos paraguaios sobre a importância dos desenhos animados do Sponge Bob no desenvolvimento das crianças e falarem do homem é porque bateu a bota!”.

Dito e feito, o homem bateu mesmo a bota!

Stephen Hawking, talvez por me ter sido apresentado demasiado tarde, não era das minhas leituras favoritas, teve azar, apanhou-me demasiado tarde na vida.

Depois de ter passado a minha fase de Eng.º Químico, que sucedeu lá pelos meus onze ou doze anos, na época em que me fechava na casa de banho por horas consecutivas e, sobre o lavatório, misturava num frasco parecido com uma proveta, vários tipos de essências: perfumes, elixir oral, xaropes e pastas de dentes na procura incessante de algo extraordinário que nunca tivesse passado pela cabeça dos cientistas. Felizmente, um dia consegui-o e os meus esforços foram finalmente reconhecidos pela minha mãe com uma frase que ficou célebre “olha, desapareceu-me o frasco de perfume, o elixir oral. o xarope e a pasta de dentes. É extraordinário!”.

Foi após este sucesso, que ficou indelevelmente gravado para a posteridade na sola do chinelo da minha mãe, que mudei então a direcção dos meus interesses para o espaço sideral. “O que estará lá em cima?”, perguntava-me durante as noites de Verão deitado de papo para o ar na relva dos jardins dos Olivais, enquanto os meus amigos se ocupavam de outros interesses relacionados com actividades mais terrenas como roubar fruta aos vizinhos das vivendas, a dita chinchada.

Os primeiros livros que me cairam nas mãos sobre esta nova matéria relacionavam-se com as teorias de Albert Einstein sobre o tempo e o espaço, o ABC da Relatividade e a Teoria da Relatividade. Não percebi nada!

Aquilo de o tempo ser relativo não me entrava na cabeça, os pontos referenciais ainda vá porque, efectivamente, um objecto só aparenta estar em movimento se nos movimentarmos em direcção ou velocidade diferente em relação a esse objecto, de resto parece-nos parado. Experimentei essa teoria numa viagem de camionete para o Norte ao lado de um idiota que cheirava mal dos pés e levou a viagem inteira a contar anedotas do Bocage e, quando cheguei ao destino, efectivamente o gajo parecia ter estado parado ao meu lado o tempo todo. Aliás a sua presença até parece ter-me acompanhado quando fui à casa de banho que cheirava um pouco menos mal que os pés da criatura. 

Agora quanto ao tempo ser mais lento para uma pessoa que se movimente num comboio do que para uma pessoa parada? Nááá não me parecia! Vai daí experimentei também essa teoria e passei a ir a pé para a escola e a ficar muito quieto nas aulas a ver se o tempo passava mais depressa. Não obtive resultados concludentes com a teoria, pois os meus colegas que estavam em constante algazarra saiam à mesma hora da sala do que eu e com um aspecto mais feliz.

Voltei a ler os livros, afinal o comboio teria de estar a uma grande velocidade, próxima da velocidade da luz, ou seja 299 792 458 m/s, ou seja ainda, quase tão rápido como a fuga de assuntos em segredo de justiça. Desiludido, guardei os livros e juntei-me à malta barulhenta da turma.

Depois de Einstein, foi Isaac Asimov com, A Matemática, A Física, A Química e o que me deu mais prazer e luta a ler, O Colapso do Universo. 

Tive de ler três vezes até perceber como é que uma gigante vermelha se tornava numa anã branca e dai, esmagada pelo seu próprio peso ao ponto do espaço inter atómico colapsar sobre si mesmo, num buraco negro de massa quase infinita.

Virei-me então para Carl Sagan, Cosmos, Contacto, O cérebro de Broca, Os dragões do Eden… comprei todos e li alguns.

Gostei imenso do primeiro e do segundo, que li antes de mesmo de se sonhar com o filme que veio dar o rosto de Jodie Foster a Ellie. Dos outros nem tanto.

Em Cosmos, Sagan falou-me de outros mundos e da improbabilidade de estarmos sós no Universo. Desmistificou os homenzinhos verdes de Marte e falou-me de seres que se poderiam assemelhar a enormes bolas de sabão que se alimentavam de gás metano e que poderiam viver em Neptuno e de outros seres que poderiam viver na atmosfera inóspita de Urano. Dos primeiros, pela experiência que tinha a andar de metro onde também existem bolsas de gás metano, presumi logo com o meu pensamento científico que não deveriam ter nariz ou teriam o sentido de olfacto muito pouco apurado e que deveriam ser muito felizes se vivessem no Metro. Também não cheguei a comprovar a teoria nem lhe perguntei nada porque morava longe.

Entretanto, um dia, passeava eu por aí com os olhos postos no céu a contar anos luz, quando esbarrei de frente com um objecto e fiquei a saber que também Terra havia estrelas. Esta chamava-se Nazaré 

Nazaré trouxe-me à Terra e já que andava por aqui decidi ficar e olhar mais para baixo e vi uma fila inteira de processionárias que caminhava em fila indiana de um pinheiro para outro. Agachei-me junto delas e comecei a observá-las. Nunca tinha visto. Em todos os meus anos de vida a olhar para o firmamento e a imaginar planetas a anos luz da terra que eu nunca verei, a meus pés e ao meu alcance, acontecia vida que eu desconhecia. Porque procurar noutros planetas a vida que aqui temos?, foi a pergunta que me surgiu. Porque trememos de emoção ao ser anunciado que a 140 milhões de anos luz da terra existe um planeta que eventualmente poderá ter condições para a existência de vida primária e ao mesmo tempo deitamos insecticida num formigueiro matando milhares de seres únicos no Universo?

Foi aí que comecei a ler e a discordar de Stephen Hawking, ele dizia que não devíamos olhar para baixo mas somente para cima e eu achava que devíamos olhar primeiro para baixo e só depois para cima. Chateamo-nos!

E chateámo-nos outra vez quando ele disse que o Homem e as gajas tinham 100 anos para encontrar outro planeta onde viver. Fiz-lhe ver por A + B que não me parecia difícil encontrar outro planeta no prazo indicado, difícil seria chegar lá. 

Finalmente a nossa última turra foi quando ele afirmou que não existia Deus. Aí é que estragou tudo. Um cientista dizer que Deus não existe não é cientista, é especulador. Quanto muito poderá dizer que nunca encontrou evidências que provem que Deus exista. Que Deus não existe não pode, tinha tantas provas em como não existia como qualquer católico que exista.

Por isso, espero que a esta hora esteja ele muito envergonhado perante um velho homem de barbas brancas e a ouvir “Com que então eu não existo, hein?”

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