Jornadas Mundiais da Juventude ou a parábola do filho pródigo
Confesso que nunca achei justa aquela parábola do Filho Pródigo
Não acho justa e certamente serei menos compreensivo que o bom filho que, após certamente ter dito um punhado de palavrões a que a Biblia fez ouvidos moucos por deferência com os ouvidos dos crentes, acabou por compreender o pai por este ter mandado matar o seu melhor bezerro para festejar o regresso do irmão estroina que gastou a sua parte da herança em putas e vinho verde enquanto ele se esfalfava a trabalhar a fazer não sei o quê lá na quinta. Para além de não a achar justa, por muito que me queiram fazer acreditar no perdão e na compaixão pelos que se deixam cair em tentação, sentimentos que parábola terá tentado enaltecer, recuso-me a aceitar e muito menos a compactuar com a lógica que a sustent. Na minha opinião, em caso algum os direitos dos prevaricadores pode sobrepor-se aos direitos de quem cumpre as regras. Subverter esta regra tem o mesmo sentido do que atribuir uma bolsa de estudos a Jack “O Estripador” para que possa dar continuidade aos seus estudos de Análise Anatómica post morten.
Mas, pelos vistos, desde os tempos antigos aos tempos modernos, devo ser eu a única pessoa no mundo a considerar esta parábola, não só estúpida, como também injusta e completamente desprovida de bom senso. Os maus, no fim do filme, têm sempre de lavar e tromba e ponto final. Não há cá meias medidas. O que seria do filme do Rocky se este no fim do filme em vez de dar forte e feio nas ventas do Ivan Drago lhe dissesse “Então? Estás arrependido por ter morto o Apolo ao soco? Sim? Então vai lá para casa e não voltes a repetir”?
Mas o acontecimento que me leva a tecer esta breve reflexão, é o que considero ser mais uma pedrada nos direitos das pessoas de bem e que o Governo fez agora passar com mais ou menos sucesso na Assembleia da República (felizmente menos do que estava previsto no documento inicial pela iniciativa inédita da oposição que, pela primeira vez, deu sinais de estar viva e de ter alguma utilidade sem ser fazer o habitual burburinho e a afectada indignação pelas indignidades que diariamente se cometem no hemiciclo).
Por graça da visita do Papa a Portugal para as Jornadas da Juventude em Agosto próximo, decidiu este Governo em Conselho de Ministros, aprovar uma medida que, salvo algumas excepções para crimes particularmente graves, tende a amnistiar ou a reduzir a pena e coimas para os jovens entre os 16 e os 30 anos que se têm portado mal. Ou seja e utilizando agora uma linguagem mais Biblica, baseado nos mais sagrados princípios cristãos, Costa propõe que os jovens pecadores em vez de penar nesta vida, tenham direito a um atalho directo para o céu que recompensará devidamente a sua malandrice e certamente os conduzirá ao caminho da virtude, enquanto os jovens que têm dedicado a sua vida ao trabalho e ao estudo sem nunca terem pensado em conduzir sem carta de condução, sem se reunirem em gangs, sem fazerem assaltos e sem cometerem espécie alguma de delito, terão somente direito a continuar a estudar, a trabalhar e a pagar os seus impostos. E pior, ou quase pior, ainda como que a gozar com estes, em cartazes espalhados um pouco por toda a parte, pede-se ainda aos jovens que não estão na cadeia em particular e à comunidade em geral, que abdiquem de alguns dias de férias para fazer voluntariado nas Jornadas, onde certamente poderão encontrar alguns dos recém amnistiados que, por sua vez, se incumbirão por iniciativa própria de fazer algum voluntariado aliviando os peregrinos do peso das suas carteiras para que possam fazer uma vida austera e de contemplação religiosa sem um tostão no bolso.
Este diploma do Governo mistura de forma muito perigosa religião, política e justiça, sobrepondo indecorosamente as duas primeiras àquela que devia ser o poder supremo num país democrático. A Justiça.
Mas tudo que mais se possa dizer a este respeito, já o disse Mark Twain na “História exemplar de Edward Mills e George Benton” e que toda a gente devia ler pelo menos uma vez na vida.
De resto na minha opinião só há dois tipos de pessoas que defendem os canalhas, os advogados e outros canalhas. Cabe a cada um de nós decidir em que papel Costa e o Governo se colocam
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