Da Veneziana à JMJ
Neste mundo, para além de um bom rabo, existem duas coisas que não me canso de apreciar: o gelado de baunilha da gelataria Veneziana, nos Restauradores, e a total inépcia dos portugueses em qualquer assunto que tenha a ver com segurança.
A primeira (o gelado de baunilha, não os rabos que vieram mais tarde), aprendi a apreciar, ainda pequeno, pela mão do meu pai nas poucas vezes em que íamos à baixa por épocas do estio e por lá passávamos, “ É um cone de duas bolas aqui para o rapaz. Escolhe lá de que é que queres”.
E eu olhava para todas as cuvets, ainda sem os estúpidos sabores de pastilha elástica, Kinder e Oreos que agora entopem as gelatarias, e dizia “Baunilha e chocolate”, era invariavelmente baunilha e chocolate. Primeiro o chocolate escuro sobre o cone e depois a baunilha por cima.
O chocolate era bom, mas a baunilha… ai a baunilha. Ainda hoje me recordo do sabor e do cheiro daquela baunilha. Não me venham cá com Santinis e outras gelatarias da moda que nenhuma delas tem uma baunilha como a Veneziana. Convido-os a todos irem lá provar a baunilha, nem que seja pelo menos uma vez na vida… ou não, não vão lá, não se vão os proprietários lembrar de meter lá uma cuvete com sabor a M&M’s para satisfazer os novos gostos da clientela. Deixem aquilo ficar a saber e a cheirar à antiga.
Mas o que é que deu a este gajo para vir falar de gelados?, perguntam vocês.
Nada!, não vim aqui falar de gelados, a conversa veio a talhe de foice, vim aqui falar da Jornadas Mundiais da Juventude ou JMJ que é, tanto quanto me lembre, o evento que tem uma sigla quase tão comprida como o nome que pretende abreviar “jotaemejota”. Ninguém diz isso, quem é que diz “vou à Jotaemejota ou à “gêmêgê”? Ninguém! Todos dizem “vou às Jornadas”, ou mais simplesmente “vou ver o Papa”.
Mas também não era disto que eu queria falar, eu queria falar da total inépcia das autoridades portuguesas e dos serviços secretos para garantir a segurança de um evento destes.
Como é que um rapazola que se auto intitula Bordalo II, com dois ou três pintelhos a circundarem-lhe o maxilar inferior, com ligeira propensão a expandirem-se para o lábio superior, e cujo único acto terrorista cometido até à data consistia em tocar à campainha dos vizinhos e fugir a sete pés, conseguiu invadir um local que se esperava ter segurança 24 horas por dia e outras tantas à noite, para colocar uma passadeira de notas de monopólio em tamanho gigante até ao palco onde se espera que o Papa vá fazer qualquer coisa? Ninguém o viu? Ninguém deu conta dele?
Na melhor das hipóteses pensei que ele tinha ido a rastejar pelos esgotos desde Sacavém até ao palco ou tivesse saltado de para-quedas sobre o local. Mas não, bastou-lhe saltar uma baia ou lá o que foi e dirigiu-se calmamente até ao palco com um rolo de notas com a dimensão aproximada de uma bazuca ou de um míssil antiaéreo e nenhum dos seguranças pareceu incomodar-se com aquilo e no dia seguinte Portugal acordou a rir-se à gargalhada com o feito, sem sequer se dar conta que este episódio é apenas uma demonstração do tipo de segurança que está montada neste país.
Aliás, já dias antes me tinham deixado alerta as declarações de alguém com responsabilidades neste país, quando afirmou perante a comunicação social, que nos próximos dias e durante o evento estava suspensa a livre circulação para dentro e para fora de Portugal, estando previstas medidas de controlo nas fronteiras, mas não havia motivo para preocupação pois esse controlo ia ser feito de forma rápida e aleatória para não causar filas nem transtornos às pessoas que queriam cruzar a fronteira.
Posto isto, resta-nos esperar que só cruzem as nossas fronteiras pessoas de bem.
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