Figueirinha

 Ontem inaugurei a época balnear 2018, a minha claro, e armado de guarda-sóis, mala térmica e família lá rumei eu em direcção à praia da Figueirinha que, de há 3 anos a esta parte, se tornou a minha praia de eleição desde que abandonei definitivamente Sesimbra tornada por estes tempos um antro de gente e famílias de plástico, muito iguais, muito finas e cujo passatempo favorito é caminhar ao longo da praia importunando todos quantos querem praticar uma actividade à beira mar.

Quando nos programas de vida selvagem falam dos números impressionantes de mortes que um simples gato doméstico provoca na avifauna local quando deixados em liberdade, eu respondo imediatamente com o número ainda mais impressionante de pessoas que um só destes passeadores de peles e banhas tostadas pelo sol pode incomodar. Param jogos de futebol, de raquetes, de voleibol, pisam e destroem poças e piscinas que os extremosos pais tinham construído para os seus pequenotes, param praticantes de skimming e até conseguem interromper, ou atrasar, aquela actividade tão máscula e tão endógena do macho engatatão português, que é entrar a correr dentro de água gelada e dar um mergulho quando atingem os 20 cm de profundidade, salpicando todos os que estão em volta e muito particularmente a menina que trazem debaixo de olho e estão convencidos que se irão apaixonar perdidamente pela sua habilidade que tem tanto de artística como de subtil..

Pois bem, a Figueirinha está livre destes caminhantes, aliás ao lado da bandeira azul devia estar outra que indicasse que a praia é livre de caminhantes o que certamente faria o turismo crescer exponencialmente. 

Ali os veraneantes preferem estar deitados nas toalhas ou estar de molho dentro de água em vez de estar a maçar os outros preguiçosos. Tirando, claro está o pai do Tiago que passa o dia a gritar “Tiago sai dai, Tiago olha que cais, Tiago anda cá, Tiago, Tiago, Tiago”. 

Outra caracteristica que define estes veraneantes da praia da Figueirinha é a sua devoção fervorosa a uma garrafa de cerveja. Quando abrem a geleira e se deparam com um six pack, é ouvir as exclamações de admiração e jubilo que só terão tido paralelo quando os três pastorinhos viram Nossa Senhora em cima de uma oliveira há 100 anos atrás.

Mas ontem a grande expectativa era o novo parque de estacionamento que o edil construiu na Figueirinha e que irá permitir um parqueamento adequado sem dar azo à anarquia até agora instalada.

Ao aproximarmo-nos da praia, a primeira coisa que reparamos é que o Hospital do Outão continua no mesmo local. É verdade! Nem um centímetro se moveu! Lá está ele debruçado sobre o Sado como nada se tivesse passado (sou tão engraçado). Apenas a torre do farol levou uma demão de tinta vermelha e parece brilhar mais intensamente.

Logo mais à frente encontramos algo de novo. Uma cancela da cor da torre do farol que impede o comum dos mortais de aceder a outras praias que não a da Figueirinha.

Quem o quiser fazer terá duas opções: ou ir de camioneta, ou de ambulância.

Como ir de ambulância não é muito prático a opção será certamente a camioneta. Mas também esta opção encerra algumas dificuldades senão vejamos: O pobretanas para ir para Galapos de camionete terá de optar por deixar os 3 guarda-sóis, a bola de futebol, metade dos filhos e as duas malas térmicas em casa e ao chegar à praia  vê-se obrigado a alugar uma palhota e ir comer a um restaurante para os quais não tem dinheiro. Quanto aos mais abonados, para irem de camioneta tem que deixar o carro em casa, o que também não dá jeito nenhum.

Adivinham-se assim muitas praias às moscas e concessionários com campanhas de publicidade cada vez mais agressivas e tentar captar os javalis da Arrábida para o seu espaço.

Quanto ao estacionamento na Figueirinha, e é o que aqui interessa, está muito bem! A intervenção profunda que sofreu a expensas do edil público, permitiu transformar os exíguos 195 lugares existentes no ambicioso número de 200 lugares disponíveis; o parqueamento que se fazia à torreira do sol e que fazia as meninas soltar gritinhos quando  à tardinha se sentavam nos bancos dos carros, pode agora fazer-se muito mais comodamente... à torreira do sol. E tudo isto pela módica quantia de 9,00 € diários ,que se podem pagar também de forma muito prática ao pé de outra cancela vermelha e branca que está instalada à saída e sobe e desce à medida que lhe metemos o tiquet na goela. 

No trajecto inverso, ou seja; da praia para Setúbal, também houve alterações, os carros que se amontoavam desordenadamente pelas bermas da estrada, continuam a amontoar-se desordenadamente pela beira da estrada, mas quase posso jurar que dois deles recolheram os retrovisores.

Ah, e também não estava lá o pai do Tiago.


(publicado originalmente em 2018)

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