Pós Brexit

 Afinal ainda estamos todos vivos, excepto, claro está, os desmancha prazeres que só para me estragarem a teoria fizeram entretanto o favor de morrer. Passou uma semana e cá continuamos a consumir o oxigénio da atmosfera com a inocência só concedida aos ignorantes e aos pobres de espírito e como se nada de extraordinário se tivesse passado.

O anunciado cataclismo mundial, só comparável nos livros de economia à extinção dos dinossáurios, não se verificou.

As pessoas normais esqueceram o que é o Brexit, o que é a Grã Bretanha e alguns mais distraídos esqueceram-se mesmo do que é falar inglês e até a própria selecção inglesa teve dificuldade de encontrar o caminho para casa quando foi eliminada do Euro.

Foi tudo uma encenação, um faits divers, só a Catarina Martins andou por aí mais uns dias entretida com a coisa até se calar de vez e começar a pensar nos direitos inalienáveis da minoria étnica dos Senegaleses albinos, que vivem numa aldeia de xisto do concelho de Mirandela.

O resto pffff! Nunca mais se ralou com a bifaria que votou a saída da UE sem sequer saberem o que aquelas duas letras queriam dizer. Só sabiam que era mau porque provocava o contacto com os selvagens que vivem isolados numa ilha do outro lado do canal, que não tomam o chá com leite e ousam viver no século XXI, o que, em Inglaterra, é quase tão grave como não usar chapéu em Ascot. 

Fala-se agora numa relação privilegiada entre as partes, mais ou menos como aqueles casais que se separam e, de lágrimas nos olhos e mãos dadas, juram ternamente que vão ser sempre amigos…. até  ambos quererem para si aquela chávena de café rachada que estava há três anos esquecida debaixo do sofá. 

Eu, cá por mim, até tenho um bocado de pena que se tenham ido embora, porque estive lá uma vez e aquilo até era giro. Fazia-me lembrar a casa dos espelhos na antiga Feira Popular. Um gajo queria ir para a direita e ia para a esquerda porque os carros andam ao contrário, um gajo dava uma libra para pagar um hambúrguer e recebia uma série de moedas de xelins e pennies que ninguém sabia bem o que fazer com elas e que fora dali não serviam para nada. Mais ou menos como aquelas moedas que se vendem na Kidzania para os putos gastarem nas brincadeiras, que custam uma pequena fortuna, por e que depois acabam por andar lá por casa as reboletas até irem parar ao caixote do lixo.

Mas o que eu gosto mesmo mesmo, é aquela sensação de eco permanente enquanto se anda por aquelas terras. Isso é que é! Uma pessoa pergunta por Ocsfórd Strit e eles respondem Oucsfourd Struit? Uma pessoa pede um aice crim e eles repetem aice creame? O que nos mantém numa eterna sensação de dejá vu. Onde é que eu já ouvi isto, pensamos?


{originalmente publicada em 2016, dias após o Brexit) 

Bom, mas estava a falar sobre o Brexit ou, como dizem os jornalistas portugueses, Breqcite, e que em português se traduz como dar de fuga.

E no fundo foi somente isso que se deu, uma revolta de reformados apoiados por uma rainha caquética e por um eurodeputado feudal a dar de pinote e a isolar-se de uma sociedade global  fingindo que está tudo bem no mundo enquanto beberricam o seu chá das cinco.

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