A política da avestruz
É, talvez, ainda muito cedo para dizer com toda a certeza se os assassinatos no Centro Ismaili podem ser considerados um acto de terrorismo ou apenas um acto isolado e sem qualquer motivação política ou religiosa praticado por um elemento daquela comunidade. Todavia uma coisa é certa, o dia de hoje, o dia de amanhã e os dias futuros jamais voltarão a ser iguais aos dias de ontem e de anteontem. Portugal entrou numa nova era: A era do terrorismo ou do quase terrorismo porque, independentemente das motivações ou falta delas do criminoso, o modus operandi é facilmente reconhecível em inúmeras situações por essa Europa fora. Uma faca de cozinha, um veículo ou um engenho explosivo e o terror e a insegurança estão lançados.
De outra coisa que poderemos ter a certeza, é que o Governo, os políticos em geral e a comunicação social, coadjuvados por uma série de especialistas de quem nunca se ouviu falar, ou pior, especialistas a que já nos vamos habituando ouvir falar, virão de imediato negar qualquer ligação terrorista a este tipo de acontecimentos. Será sempre um acto isolado, uma situação de desespero ou de perturbação mental, muito principalmente se envolver imigrantes. Eventualmente até tentarão deitar as culpas no sistema de integração destas pessoas que não actuou de forma eficiente.
Se custa acreditar nestas palavras, basta atentar na diferença de tratamento que foi dado pelo poder político e pela comunicação social em duas situações que, não sendo iguais, permitem contudo fazer uma comparação: o assassinato de Bruno Candé em 2020, explorado até à exaustão por estas duas forças durante semanas e tratado de imediato como um caso de ódio racial, que alguns afirmaram até ser um sentimento enraizado na sociedade portuguesa e o presente caso em que se tentou desde o primeiro minuto afastar, por um lado qualquer conotação terrorista e por outro isolar o criminoso do resto dos membros da comunidade Ismaelita, o que não deixa de ter sentido uma vez que não se pode colocar no mesmo prato da balança pessoas que vivem há anos em paz entre nós, com os actos de um único elemento dessa comunidade.
Mas é por demais visível o desconforto e o receio que o poder político sente nesta situação. E é tanto mais notório esse desconforto, quando se ouve alguém com responsabilidades politicas, pedir aos partidos para terem algum decoro e não tentarem tirar dividendos desta situação, que é como quem diz “vejam lá se não falam muito no assunto”.
E a verdade é que dois dias passados sobre o atentado, o assunto parece ter caído no esquecimento, se não das autoridades judiciais, pelo menos do poder político e da comunicação social
Outra das afirmações que ouvi na telefonia e que me deixou preocupado, foi que este indivíduo em particular não estava sinalizado pelas autoridades policiais, o que me dá a entender que em Portugal residem indivíduos referenciados como possíveis terroristas ou criminosos e que a policia se limita a passar de vez em quando lá pela porta da casa para saber se está tudo bem.
A ver vamos no que isto vai dar.
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