Sucesso sim...mas pouco


 Certa vez, quando era gaiato, assisti a um filme na televisão, ainda a preto e branco, cujo argumento rodava em torno determinado jovem adulto que possuía uma qualidades físicas inigualáveis: conseguia correr mais rápido e mais longe do que ninguém, levantava e arremessava à distância pesos que excediam a força humana, saltava a alturas impossíveis ao comum dos mortais, etc.

De tal forma que, um dia, alguém lhe descobriu estes dotes extraordinários e o arrancou às suas tarefas diárias e o convenceu a entrar nuns campeonatos de atletismo. Primeiro regionais, depois distritais e face à sua imbatibilidade, em campeonatos nacionais e por fim nos Jogos Olímpicos que venceu em todas as modalidades em que participou, ou seja, todas! 

Escusado será dizer que, primeiro a sua aldeia, depois o seu país e, por fim, o mundo inteiro se vergou às extraordinárias capacidades daquele atleta. Na aldeia faziam-se festas a cada vitória e os mais soberbos faziam pirraça às aldeias vizinhas, os presidentes de Junta e de Câmara faziam discursos inflamados sobre o muito orgulho que sentiam naquele homem que até á data todos desconheciam mas que tinha nascido na sua Freguesia ou no seu Conselho. O País louvou-o e recebeu-o com poupa e circunstância quando recebeu as medalhas e fez subir a bandeira nacional e ouvir o hino nacional em vários estádios do mundo. O plebeu tinha-se tornado um rei!

Passaram-se meses, anos e o jovem continuava a ganhar todas as provas em que concorria, o que começou a geral algum desconforto geral, primeiro nos outros atletas que começaram a pensar que não valia a pena sujeitaram-se a dietas rigorosas e treinos intensivos apenas para lutarem pelo segundo lugar e depois à sociedade em geral. Não tardou em os aplausos começarem a diminuir e começarem a sugerir os primeiros rumores de dopping e outras suspeitas de favores e resultados combinados. Acabaram-se as festas, as recepções, os discursos e até na própria aldeia onde nascera os seus amigos e conhecidos que continuavam a sua vida a trabalhar na agricultura, nas fábricas e nalgum comerciozito local, começou a questionar-se sobre o que é que ele jovem tinha de especial para ser o escolhido entre tantos outros habitantes da aldeia para ter aquelas aptidões especiais e se não haveria alguma coisa estranha naquilo tudo.

Os poucos aplausos que já recebia começaram a tornar-se em apupos e o rapaz não sabia que mal tinha feito para merecer tal ingratidão e para o vexarem assim. De tal forma se sentia infeliz que numa competição de salto em comprimento pediu ao seu treinador para lhe atar uma guita à cintura e o puxar para trás quando saltasse. O treinador assim fez e finalmente voltaram-se a ouvir aplausos no estádio quando o nosso jovem perdeu a competição para outro atleta.

Triste e confuso, o jovem pergunta ao treinador o porquê de todos aqueles que anteriormente o apoiavam e aplaudiam estarem agora a regozijarem-se com a sua derrota. Ao que o treinador já experiente lhe respondeu: “Sabes, só há uma coisa que o povo gosta mais do que sentar uma pessoa num trono. É fazê-la cair de lá”

Nunca mais esqueci esta frase

Ontem, ao ver como este povo miserável e escasso de princípios, estes pseudo jornalistas e comentadores medíocres falaram de Cristiano Ronaldo fez-me recordar este filme e deu-me vómitos. A tentativa de assassinato de carácter, a falta de empatia para com um jogador que sempre deu tudo pela selecção e pelos clubes por onde passou, um jogador que elevou o nome de Portugal à estratosfera terrestre, meteu-me nojo. São pessoas medíocres, Zés Ninguém a quem as redes sociais e uma comunicação social sedenta de sangue deu alguma voz e fez sentir que servem para alguma coisa que não seja “trabalhar na agricultura, nas fábricas e nalgum comerciozito local”. São seres reles, zeros à esquerda.

Não se tratou de uma critica a uma má prestação ou um abaixamento de forma. Tratou-se, como referi, de uma tentativa de assassinato de carácter, assim como o foi o célebre caso da marquise que teve a honra de abriu telejornais.

Portugal e os portugueses não convivem bem com o sucesso de pessoas como  Cristiano Ronaldo, António Silva, João Félix, Bruno Fernandes, José Mourinho, Jorge Jesus e tantos outros que em Portugal ou no estrangeiro dão mostras do que Portugal pode germinar. 

Todos eles sem excepção precisam de alguém que os segure com uma guita para que possam ouvir o aplauso dos portugueses


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