Senhor Presidente, um microfone não é um gelado
As intervenções do Sr. Presidente da Republica perante a comunicação fazem-me crer piamente que tendo, atingido o ponto mais alto da sua carreira com a chegada a Belém e não tendo mais nada de útil para fazer, assumiu como único objectivo na sua vida fazer-me passar vergonhas por interposta pessoa. Pode ser mania da perseguição minha, mas estou plenamente convencido que o Senhor Presidente acorda, confirma que ainda está vivo e vai de magicar uma forma de me envergonhar e se possível, por arrasto, envergonhar todos os portugueses. Não é esta última uma condição imprescindível mas, se puder ser, melhor para o seu ego de criançola atrevida.
Depois daquelas tristemente memoráveis intervenções sobre tamanho do decote de uma cachopa, que se poderá atribuir à sua personalidade ou senilidade, e dizer na cara do embaixador da Palestina um “foram vocês que começaram”, como se fosse uma educadora de infância perante um aluno de três anos que levou nas trombas de outro mais velho, tive ontem o prazer de ouvir o Senhor Presidente em mais uma das suas vetustas alocuções quando se dirigiu aos portugueses para justificar a sua decisão de dissolver a Assembleia da República.
Como é habitual, o seu discurso foi tomado de argumentos risíveis que roçam o ridículo e estou em crer que não fosse ele Presidente da República Portuguesa teria certamente lugar no talhão dos artistas no cemitério do Alto de São João. Aliás um dos seus argumentos fez-me mesmo recordar o filme a Canção de Lisboa quando o António Silva, num concurso de costureirinhas, pergunta aos jurados em qual das canções vota e um diz “eu voto na de verde”, outro diz “eu voto na de amarelo” e um terceiro “eu voto na de encarnado” e ele, muito indignado. Levanta-se e diz “vocês não percebem nada de música, eu é que decido! Quem ganha é a minha filha!”.
Marcelo fez exactamente a mesma figura quando perguntou, primeiro aos partidos com assento parlamentar, se devia ou não dissolver a Assembleia da Republica. Contra, manifestou-se contra o PS que é detentor da maioria parlamentar absoluta e um bocadinho do PAN que não sabe bem para onde se virar e a favor, mostraram-se o PSD, o Chega, o BE, o PCP, o IL e o Livre, tudo com ambições de chegar ao poder, uns por direito próprio, outros a cavalo noutros partidos.
Mais tarde, Marcelo arranjou ainda tempo para ouvir seus pares do Conselho de Estado de onde, infelizmente para ele, não conseguiu retirar qualquer consenso o que, para efeitos práticos, é o mesmo que ter ouvido um rotundo não.
Amuado por tantas opiniões aborrecidas que lhe estavam a retirar o protagonismo que tanto gosta, também se levantou da cadeira e exclama “vocês não percebem nada disto, eu decido!”.
Evocou também o Senhor Presidente na sua alocução outro argumento que também me tocou muito. Foi o facto de ele próprio já ter outrora afirmado que a vitória do PS nas legislativas se deveu à figura do seu líder e, como tal, em caso de abandono do lugar, convocaria eleições antecipadas. Esqueceu-se contudo foi de mencionar o contexto em que tinha feito aquela afirmação que nada tem haver com o presente.
E se António Costa tivesse morrido ou ficado incapacitado em vez de se ter demitido? O alfarrabista também teria dissolvido o parlamento? Confesso que coloco algumas dúvidas.
Não contesto a dissolução deste Governo Socialista que há muito cheirava a podre. E mesmo não tendo António Costa qualquer responsabilidade criminal em qualquer um dos muitos casos que afectaram a legislatura, teve certamente responsabilidades políticas ao manter a confiança em pessoas de credibilidade no mínimo duvidosa.
Contesto e em primeiro lugar a oportunidade do Ministério Publico em deixar vir a lume este caso a meio da aprovação de um orçamento fulcral para os portugueses e para Portugal e em segundo lugar a forma tão rápida com que o Senhor Presidente aceitou o pedido de demissão de António Costa apenas por o seu nome ter sido mencionado por suspeitos, em determinada altura, como tendo influência para facilitar processos. Esqueceu-se porventura o Senhor Presidente que, poucos dias antes, o seu nome também foi mencionado num processo de trafico de influências e nem por isso o Senhor Presidente equacionou abandonar ou suspender o cargo durante o processo de investigação.
E continua o baile na Sociedade Recreativa
Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha.
Afasta, afasta o meu didal…
Nota: o “haver” foi só para vos chatear
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