O Jé
No Lidl, um
exemplar do sexo feminino, parca de carnes e cabelo cortado curto à beata de
igreja, que se notava ter sido recém colorido de um loiro alaranjado para
disfarçar a cabeleira mais que grisalha,
lutava com os botões da caixa multibanco e ia descrevendo a operação e ditando
os afazeres ao marido que, logo atrás
dela, se escondia atrás de um imenso carrinho de compras que faziam a sua fraca
figura parecer ainda mais enfezada.
"Jé,
olha para isto o que está aqui a dar. Jé, olha, olha, ó Jé"
O marido,
ocupado a tentar controlar o carrinho de compras que mostrava tendência para
fugir para a esquerda, não lhe podia dar a atenção que ela exigia".
"Jé, vê
lá, vê lá, olha os números. Jé.. Olha para aqui"
E o Jé de pernas fincadas no chão e cu espetado
para trás a tentar segurar o carrinho que queria fugir fazia-me lembrar o
capitão Ahab a tentar segurar a Moby Dick pelo rabo.
"Olha,
dij aqui código errado..."
Pausa
dramática.
"Pois,
estou aqui a falar contigo e enganei-me!" concluiu.
De alguma forma eu já sabia que a culpa ia ser do Jé.
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