Tuba e Piano
No auditório Joaquim de Almeida, os intérpretes do concerto para tuba e piano são anunciados por entre uma salva de palmas. Tuba? Como pode alguém pensar em tuba quando decide enveredar pelas artes da música? Ao lado de um piano a tuba é rude, enorme, grosseira, e pertence à classe dos Zé Ninguém. Aos primeiros acordes de piano fecho os olhos porque a música deve beber-se pelos ouvidos em flutes de champanhe para que o seu aroma não se perca nas luzes do palco. Ao lado do piano, começa a ouvir-se uma voz, quase um lamento a subir de tom, que me faz lembrar um não sei o quê muito triste do meu passado. Perco o piano e só oiço a tuba, chora, ou melhor conta o seu fado com uma angústia na voz que só quem já passou por muito consegue transmitir. Vagueio e também sem saber bem porquê aterro nas declarações de Tino de Rans: “todos os candidatos são iguais, mas parece que uns jogam em campos relvados e outros em campos pelados.” Fico a pensar, acho que toda a vida joguei em campos ...