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A mostrar mensagens de agosto, 2024

O Sr Santana

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 Por vezes gosto de me considerar um guardador de memórias, até porque me faz acreditar que sirvo para alguma coisa.  Hoje, remexendo no meu velho baú de memórias, encontrei o Sr. Santana, cobrador reformado na empresa onde ainda vou fingindo que trabalho.  O caro Santana, homem de modos rudes, largo de compleição e nariz fibroso adorava a sua pinga, naturalmente quando digo pinga refiro-me a um barrilzinho de aguardente, sobre a qual ele dizia "Carlos, tenho de lhe trazer uma garrafinha de aguardente lá da terra. Com um bocadinho de açúcar amarelo lá dentro, ao fim dum mês parece uisc!" e depois contava a rir "quando vou com a família à terra, para cima vai tudo comigo no carro, à vinda para baixo vêem de comboio e eu trago o carro".  A cirrose levou-o há muitos anos e a garrafa de aguardente que me trouxe continua por abrir na minha garrafeira, mas tenho a certeza que se um dia a vier a abrir se saberá melhor que o melhor Oban.

Bucareste 30º à sombra

 Uma das razões que gostava de viajar com o Mourato é que não havia conversas de ir ao pacote. Mas alto é pára o baile. É preciso não confundir conversas de ir ao pacote com conversas parvas em que, felizmente, eramos pródigos. Tanto podíamos andar quilómetros a discutir a diferença entre uma Spur Cola e uma Coca-Cola ou a inventar uma letra estúpida para uma canção com que presenteássemos o Jacinto quando chegássemos à Ericeira, como podíamos estar horas em silêncio sem trocar uma palavra. Nunca havia aquela urgência em dizer qualquer coisa só para fazer conversa. As palavras surgiam quando tinham de ser ditas e os silêncios prolongados nunca eram embaraçosos. Ao contrário daquelas pessoas que estão almoçar e depois de uns segundos de silêncio se sentem no dever de falar do calor ou do frio que fez ou que vai fazer, dizíamos que tínhamos a dizer e nunca nos sentimos obrigados a mais,  Isto veio-me a propósito da mania que apanharam na Antena 1 quando anunciam o tempo para hoj...